Quem trabalha com Educação Infantil, especialmente com bebês, sabe que o simples ato de acender e apagar as luzes da sala atrai a atenção dos pequenos. Qualquer reflexo de iluminação ou ausência dela – como as sombras – tem também um enorme potencial exploratório e imaginativo.
Foi com base nessas observações que a professora Tatiana Alves elaborou o projeto de Educação Infantil “Luzes, cores e sombras: reflexos e transparências sobre a ótica dos bebês”, levado a cabo em 2021 em sua turma no CEI (Centro de Educação Infantil) Jardim Panamericano, em Pirituba (SP). Bem sucedida, a iniciativa obteve reconhecimento e conquistou menção honrosa na última edição do Prêmio Arte na Escola Cidadã, promovido pelo Instituto Arte na Escola.
“Estávamos na sala fazendo brincadeiras com lanternas e luzes, e percebemos que os bebês ficaram bastante curiosos”, relembra Tatiana. “Pensamos que esse interesse poderia ser trabalhado de forma contínua em um projeto.”
Com esse ponto de partida, a professora deu uso para ferramentas que estavam inutilizadas na escola, como um retroprojetor e um datashow, além de materiais que ela levava de casa, como lanternas e discos de CD para brincar com os reflexos. Também foram elaboradas lupas coloridas, com papelão e celofane, para incrementar ainda mais o projeto de Educação Infantil.
“Os bebês adoram seguir as luzes que piscam no chão. Aos poucos, fomos adicionando novos materiais que enriqueceram a experiência, como cestos e garrafas pet, trazendo novos elementos para aquela exploração”
Dentro desse contexto, semanalmente a professora levava novas propostas para os bebês – até mesmo aqueles globos de luz, tão característicos de festas noturnas, foram utilizados. “Os bebês adoram seguir as luzes que piscam no chão. Aos poucos, fomos adicionando novos materiais que enriqueceram a experiência, como cestos e garrafas pet, trazendo novos elementos para aquela exploração”, aponta Tatiana. Dessa forma, eram apresentadas novas perspectivas dentro daquilo que já era comum na rotina dos bebês. “Também usamos a luz para trabalhar momentos como a leitura, com uma luminosidade mais baixa e com lanternas.”
Experiência estética de exploração
As atividades pedagógicas que envolvem luz e sombra permitem que os estudantes construam conhecimentos sobre esses elementos, descobrindo novas possibilidades de gestos e movimentos do próprio corpo, além de terem estímulos para o desenvolvimento de criatividade e imaginação.
A professora avalia que a experiência foi importante não apenas para os pequenos, mas também para ela e as outras docentes envolvidas no projeto de Educação Infantil. “Através da busca em livros e exposições, nos tornamos pesquisadoras do tema, nos nutrindo para que esse projeto tenha sequência”, revela. “As famílias, inclusive, sinalizaram que em casa os bebês estavam curiosos com as luzes. É um reflexo dessa experiência estética de exploração e de sensibilidade, que começou na escola e se estendeu à casa deles.”
Reconhecimento público
De acordo com Tatiana, o apoio da gestão escolar ao projeto de Educação Infantil foi importante para que ele fosse divulgado dentro da rede municipal, além de ajudar com os materiais e os recursos necessários. O “Luzes, cores e sombras” foi apresentado na Jornada Pedagógica da Educação Municipal de São Paulo. “Assim, outros professores tiveram a oportunidade de conhecer a iniciativa. Além da menção honrosa no Prêmio Arte na Escola Cidadã, a escola também organizou uma mostra cultural, que apresentou o projeto às famílias.”
A professora afirma que não esperava que o projeto chegasse tão longe. “Foi uma surpresa bem grande, algo que nos deixou muito felizes, como uma comprovação de que estávamos no caminho certo. Foi um trabalho de comprometimento com as crianças, e merecia ser valorizado e destacado”, avalia. “Ele foi muito além do cuidar. Com a sua curiosidade, os bebês aprenderam, pesquisaram e nos ensinaram muitas coisas.”
Autor: Danilo Mekari
* Conteúdo produzido e editado pelo Porvir.