Na escola se aprende muito, mas fora dela também. Portanto, as férias não significam um afastamento das aprendizagens. Junto com a família, esse tempo de descanso e diversão pode promover experiências ricas em novos conhecimentos.
Os adultos que vão ficar com as crianças nas férias, contudo, não precisam se preocupar em quais lições passar ou quais habilidades desenvolver. “Não se deve tentar reproduzir o sistema da escola durante as férias. A aprendizagem vai ser natural, de uma forma que nem se percebe”, garante Mila Chiovatto, coordenadora do núcleo de ação educativa da Pinacoteca de São Paulo.
A busca deve ser por proporcionar “experiências significativas” e, para isso, o primeiro passo é ouvir os pequenos. “O adulto tem a tendência de querer mostrar o que sabe, dizer ‘olha aqui que interessante’, mas são os interesses da criança que devem ser contemplados. O principal é respeitar a curiosidade dela, entender qual é o foco de atenção. A partir daí, você constrói um processo de experiência”, explica Mila.
“O adulto tem a tendência de querer mostrar o que sabe, dizer ‘olha aqui que interessante’, mas são os interesses da criança que devem ser contemplados”
A própria conversa com a criança sobre os seus interesses e as justificativas das suas respostas já é um processo de aprendizagem. Segundo Mila, elaborar o que pensa e sente é um trabalho de abstração mental importante para as crianças. “No começo, ela pode até não saber explicar, mas se você continuar perguntando, investigando, ajudando a levantar hipóteses, ela vai organizado e construindo possibilidades de respostas”, diz.
A coordenadora da Pinacoteca recomenda que, ainda que a criança tenha um foco muito específico, é a partir dele que se deve ampliar as experiências. Se a criança gosta de videogame de futebol, por exemplo, é possível instigá-la a tentar os mesmos passes na vida real, correr ao redor de um campo de verdade.
Além de conhecer os interesses dos filhos, para aproveitar bem as férias é preciso conhecer a realidade de onde se vive. Mesmo que não seja possível viajar, há muito para ser explorado nos arredores. “São Paulo é uma cidade violenta, dura para as crianças. Então temos de lidar com elas em certos espaços, como parques, museus, unidades do Sesc. Em cidades menores, as ruas ainda podem ser espaços de aprendizagem”, cita Mila. Ela sugere, por exemplo, que pais se organizem para um dia de brincadeiras antigas, como corridas de saco e ovo na colher ou até mesmo disputas de amarelinha.
As férias podem ainda ser um tempo marcado pela aprendizagem via afetos. Angela di Paolo, professora de Pedagogia do Instituto Singularidades, lembra que passar tempo com as crianças estreita laços – e isso também ajuda a construir o repertório de aprendizagens dos mais novos. “As férias são sempre importantes para ter convivência familiar. É muito bom se há a possibilidade de visitar parentes que moram em outras cidades, passar um tempo com os avós, fortalecer os laços afetivos”, afirma.
Claro, não adianta apenas passar tempo lado a lado se cada um estiver em seu celular. A ideia é que o adulto ofereça sua atenção e, por meio da sua disponibilidade, conquiste a atenção da criança.
O afeto também pode ficar marcado por um “baú de memórias” das férias.
“As crianças podem recolher pequenos objetivos com significados. Pegar uma conchinha, uns galhinhos, uma pedrinha dos lugares que visitarem. Criar esse conjunto também é uma forma de aprendizagem”, diz Angela. As experiências vividas poderão ser revividas por meio dessa seleção e contadas para os colegas de escola com mais facilidade quando as férias acabarem.
“As crianças podem recolher pequenos objetivos com significados. Pegar uma conchinha, uns galhinhos, uma pedrinha dos lugares que visitarem. Criar esse conjunto também é uma forma de aprendizagem”
E mesmo num dia de tempestade, dentro de casa, também é possível viajar com a imaginação e, por que não, aprender durante esse processo. “Nas redes hoje, a gente encontra muitas atividades para fazer dentro de casa. O melhor é quando eles constroem os jogos, inventam suas brincadeiras, fazem suas regras. Esse processo desenvolve a autonomia, faz as crianças entenderem que também podem ser autoras”, diz Angela.
Para Mila, da Pinacoteca, o conselho mais importante para os pais ou responsáveis que vão ficar com crianças nas férias é que eles próprios desfrutem desse tempo. Afinal, os adultos também têm muito a crescer e aprender no convívio com as crianças. “Aproveite a companhia do seu filho enquanto pode, porque rapidinho eles crescem”, diz Mila.
Autora: Luciana Alvarez
* Conteúdo produzido e editado pelo Porvir.